Quarto Semestre de Jornalismo (2010)
Rádio: ou você gosta ou você não gosta
Mesmo com a evolução tecnológica das mídias, o rádio continua como uma das opções dos estudantes de jornalismo na região de Campinas, um dos maiores pólos radiofônicos do Brasil com 32 emissoras transmitindo em FM e 13 em AM, sendo três rádios de caráter noticioso, a CBN e a Band News no FM, e no AM, a Bandeirantes, assim abrindo um leque para o ingresso de jornalistas no mercado.
O rádio foi o primeiro meio eletrônico de comunicação com as pessoas, tendo um brasileiro entre os pioneiros na criação. O padre Roberto Landell de Moura que no final do século XIX transmitiu em Campinas as primeiras mensagens pelas mesmas ondas que levam hoje as principais informações do Brasil e do mundo, chegando a todos os pontos, no carro, no celular, na rua, em casa, assim o rádio tornou-se o meio de comunicação mais acompanhado nas manhãs e tardes do brasileiro.
A maioria dos grandes comunicadores iniciaram suas carreiras no rádio, como o Silvio Santos, Carlos Nascimento e outros. No rádio campineiro, muitos comunicadores, como Fausto Silva, o Faustão, os narradores Luciano do Valle da TV Bandeirantes, Jota Junior do canal por assinatura SPORTV, os repórteres Felipe Diniz, atualmente na TV Globo, Luiz Ceará repórter da TV Bandeirantes, e muitos outros são exemplos disso. E usaram um recurso fundamental no rádio, o improviso, que é praticado constantemente, preparando os profissionais para os outros veículos, como a televisão. “O improviso no rádio é total, te dá uma experiência muito grande, amanhã você vai para uma televisão, e a experiência no rádio é muito grande e valiosa” afirma Claudinei Corsi, coordenador de esportes da Rádio Brasil de Campinas, afiliada a Rede Jovem Pan.
Perfil Profissional exigido no rádio
Para Claudinei Corsi, radialista há 20 anos, ter o conhecimento é essencial para o rádio jornalista, até mesmo mais importante do que ter um vozeirão. “Na seleção para uma vaga, o primeiro fato que observo é o conhecimento sobre o assunto, com isto você vai saber se vai dar certo ou não”.
Porém não é somente o conhecimento que marca uma seleção, o gosto pelo veículo é decisivo na hora de contratar. “Em rádio, se você não gostar e não tiver disposto de se doar, nem entra, pois não vai dar certo, tem que estar disposto em fazer e trabalhar além daquilo que você ganha e da sua função, e se não fizer, o próprio segmento vai cortando” finaliza Claudinei, que já ficou 18 horas trabalhando. “Por exemplo, na Rádio CBN, às vezes eu entrava a sete da manhã e quando tinha jornada eu saia uma da madrugada, eu morava bem dizer na rádio, tinha que fazer de tudo”.
Além de trabalhar muito, o salário é um dos menores de todos os meios de comunicação, por este motivo somente aqueles que são apaixonados pelo meio seguem carreira. “Toda pessoa que se forma tem um sonho na cabeça, se formar, arrumar emprego naquilo ela gosta e ganhar bem. Então o fato de se formar, trabalhar no que você gosta, até ai tudo bem, mas ganhar bem... a coisa se complica no rádio” relata Corsi. Depois da chegada da televisão, o valor em publicidade em rádio caiu drasticamente, diminuindo os salários e cortando funcionários do departamento de jornalismo de todas as emissoras.
Oportunidades nas emissoras radiofônicas
Em meio a dificuldade de manutenção de uma programação jornalística, os veículos radiofônicos terceirizam os seus departamentos para profissionais que buscam patrocínios no mercado e pagam um valor determinado para a emissora. Nas três maiores emissoras AM de Campinas, o departamento de esportes é terceirizado: a Bandeirantes terceirizou para o narrador e apresentador Carlos Batista, a Central para o narrador Alberto Cesar, e na Brasil, o comentarista Roberto Marcondes. “Eles criam uma empresa, registram os funcionários que não são da rádio, são funcionários deles, se um deles for para a outra emissora, todos os funcionários vão juntos, porém aqui na rádio Brasil alguns funcionários são contratados da rádio e outros do Marcondes” comenta Corsi sobre o mercado de trabalho nas rádios.
Outra prática encontrada no rádio jornalismo campineiro é a forte presença de profissionais freelancers, que ganham por trabalhos ou por um determinado tempo, não tendo um registro da carteira e direitos trabalhistas, como o décimo terceiro salário e férias. Dos quarenta funcionários da Rádio Brasil apenas doze são registrados em carteira, exemplificando a rotatividade de profissionais entre as emissoras, por não ter um vínculo empregatício com as empresas.
Para os que ainda são estudantes de comunicação, o estágio é a principal porta de entrada nas emissoras de rádio, assim como em todos os outros veículos de comunicação. No estágio, o estudante conhece e aprende sobre a rotina de trabalho, e tem a chance de ser contratado depois de já formado ou ir para outro veículo. Porém o mais importante, na visão de profissionais e estudantes, é estar inserido no meio de comunicação, é vivenciar o que se aprende na teoria.
A expectativa do mercado de trabalho no rádio campineiro é de crescimento com a possibilidade de criação de uma rede de rádio jornalística da Rede Record, aumentando a concorrência entre as empresas radiofônicas na busca pela audiência e consequentemente a procura pelo melhor profissional, melhorando as condições salariais do mercado.
Rádio Web: Um novo espaço procurado pelos estudantes
A dificuldade de conquistar um trabalho dentro de uma rádio motivaram seis estudantes de jornalismo da Universidade Paulista a criarem uma equipe de jornalismo esportivo exclusivamente na internet. A Equipe Esportiva Show de Bola leva a emoção do esporte da mesma maneira que o tradicional rádio, contudo, usa a internet, transmitindo a informação onde as ondas do rádio não chegam.
Criada no início de 2010 por Fabricio Fernandes, Gustavo Bezerra, Thiago Mateus, Danilo Soler, Carlos Rodrigues e Marcela Romeiro, a equipe surge com a intenção de levar na internet transmissões esportivas dos grandes clubes brasileiros para todo o mundo, com a interatividade que a rede mundial de computadores proporciona.
O trabalho é coordenado pelo estudante do quarto semestre e âncora esportivo Fabricio Fernandes, que destaca o diferencial da equipe em ter somente futuros jornalistas. "A presença de estudantes é um diferencial da equipe, além de servir como um espaço para exercer a atividade que gostam, serve também por ter a vivência da internet e entender toda a linguagem presente neste novo meio de comunicação, sem falar que este trabalho torna-se um portfólio para se apresentar em uma rádio, sendo um diferencial que o integrante da equipe tem em relação aos outros concorrentes a uma vaga" afirma Fernandes.
Para Carlos Rodrigues, narrador e estudante do segundo semestre, conquistar experiência na área ainda nos bancos da faculdade é um diferencial “Quem tiver chance de adquirir experiência tem que agarrar com unhas e dentes, pois você já sai na frente de 90% dos concorrentes e o surgimento da Equipe Show de Bola serve para mim como uma preparação e um estímulo para o futuro em uma rádio de grande porte”.
O futuro do rádio jornalismo está na Rádio Web, que possibilita a participação instantânea do ouvinte na transmissão. ”A tendência do novo rádio está na internet, as grandes rádios estão transmitindo pela web, alcançando públicos de qualquer lugar do mundo, que nunca poderiam escutar uma narração de uma partida brasileira e recebendo participações pelas redes sociais como o Twitter” finaliza Carlos.
Rádios preferem ter Agências de Notícias
Das 43 emissoras sintonizáveis em toda região de Campinas, 11 delas apresentam os cinco por cento de jornalismo exigidos pela lei da radiodifusão brasileira sem ter um jornalista trabalhando, mas executam esta lei contando com os serviços de uma agência de notícias exclusiva para rádio, fornecendo informações em áudio, disponíveis para download pela internet.
No Brasil, a maior agência de notícias de rádio é a Radio Web, existente há nove anos, e disponibiliza gratuitamente conteúdo jornalístico em áudio para 1.925 rádios afiliadas em todo o território nacional.
Uma das rádios que recebem este serviço é a 95 FM da cidade de Amparo, a radialista e coordenadora artística da emissora, Valéria Galvão confirma que as emissoras de pequeno porte não têm condições de bancar um jornalista. “As pequenas emissoras não conseguem patrocínios para ter ou bancar um jornalismo local e cumprimos a lei com a exibição da A Voz do Brasil, e exibindo a cada hora um boletim informativo da Radio Web” conclui a radialista.
Outras oito emissoras da região só contam com o jornalismo na exibição obrigatória do programa A Voz do Brasil, o mais antigo programa jornalístico em exibição no Brasil há mais 70 anos.
Claudinei Corsi, vinte anos de amor pelo rádio campineiro
Foto: Raquel Calefi
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